quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Eu vou fazer de novo... Eu esqueço!

Ontem à noite, depois das minhas 08 horas diárias de trabalho, chego eu em casa. Como de costume, faço aquela festa ao entrar:
- Cadê a pitita de mainha? (não me perguntem o que quer dizer "pitita")
Geralmente, Clara corre para os meus braços, dá um beijo para lá de forte e um abraço gostoso. Quando não, podem estar certos: é porque alguma coisa aconteceu!
E foi assim...
- Que cara é essa, filha? Trelou?
Clara me responde com um olhar desconfiado e com um sorriso nervoso. Nada de palavras mas, sem dúvida, a confirmação de que houve algo.
Sigo com o monólogo:
- Você vai me falar ou quer que eu pergunte a Leni? (Leni é a babá da minha pitita)
Sem muita opção, ela finalmente me responde:
- Belisquei Leni (falando para dentro, praticamente).
- Você o quê???
- Belisquei Leni... Respondeu já chorando.
PAS-MA... Essa é a palavra apropriada! Eu nem imaginava que ela sabia que "beliscar" existia... Muito menos praticar!
Falei que era muito chato fazer isso com alguém, porque doía... E que Leni, de quem ela tanto gosta, devia ter ficado muito triste. Joguei na emoção:
- Você quer que ela vá cuidar de outra criança, e não mais de você?
- BUÁÁÁÁÁÁÁÁ (respondeu, né?)
Como Leni ainda estava em casa, pedi que Clara se retratasse carinhosamente... Então ela pediu desculpas, beijou e abraçou Leni, prometendo nunca mais fazer isso.
Reforcei:
- Dessa vez, mainha vai deixar passar. Mas na próxima, e que não tenha uma, você vai ficar de castigo.
- De castigo grande ou pequeno? Perguntou ela.
- Grande!!! Respondi abrindo bem os braços.
Leni foi embora porque já era dada a hora dela e Clara, pra meu espanto, voltou a falar sobre o assunto.
- E se eu esquecer?
- Esquecer de quê, Clara?
- E se eu fizer de novo?
- E se você fizer de novo o quê, filha?
- Beliscar, mamãe!
PAUSA: COMO ASSIM BELISCAR DE NOVO????
- Como assim? Claro que você não vai esquecer... Qual o seu nome?
- Clara.
- E quantos anos você tem?
- 04 (mostrando também sua mão e os 04 dedos certinhos).
- Então, filha... Você esqueceu sobre isso?
Antes que respondesse, o fiz por ela:
- Claro que não, né? Então você não vai esquecer que não pode beliscar.
Para meu maior espanto, Clara não se deu por satisfeita e continuou:
- Mas eu vou fazer de novo... Eu vou esquecer, mamãe!
E por mais n vezes expliquei que isso não aconteceria... E se precisei explicar mais de n vezes, está claro que ela também não entendeu (ou esqueceu) por n vezes...
Uma longa noite que estava só começando.
Clara fez o lanche da noite:
- Eu vou esquecer...
Clara colocou o pijama:
- Eu vou esquecer...
Na hora de escovar os dentes:
- Eu tenho certeza que vou esquecer, mamãe.
Sem paciência e argumentos, parti para o lado B da solução: o tão temido castigo.
Após os merecidos minutos no sofá indesejado, de muito choro e birra, perguntei:
- Está mais calma?
- Sim. Respondeu ela.
- Pensou sobre o que conversamos?
- Sim, mamãe.
- Então vamos dormir porque já está na hora, certo?
- Certo. Finalizou Clara.
Fomos para cama. Fechei a janela, dei seus bichinhos companheiros do sono, liguei o ar e me despedi como sempre faço.
- Boa noite, filha! Eu te amo...
- Boa noite, mamãe. Eu te amo também!
Antes que terminasse de fechar a porta, escutei sua voz, baixinha:
- Mas eu vou esquecer...

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